Bem pessoal, acho que estou em divida para com vocês, pois prometi que vos contava como correu o lançamento e falhei. Peço desculpa, mas sou verdadeiramente alérgico à Primavera. Se ranho e macacos em excesso valessem dinheiro garanto que não editava mais um livro e montava um hotel rural no meio dos pólenes e fenos do campo. Já agora, perdoem-me também qualquer eventual erro ortográfico que possa surgir ao longo do texto, mas tenho os olhos da cor de dois tomates. Neste momento mais pareço um peixe de aquário com os olhos salientes a abrir e fechar a boca para oxigenar (tenho uma espécie de asma alérgica).
Então aqui vai. Como era de esperar, acordei bem cedo no dia 23, sábado passado, no intuito de finalizar os últimos preparativos para o lançamento, que ainda eram alguns, pois a responsabilidade do escritor permite ter a fascinante proeza de deixar tudo para a última hora, lavar as cagaitas e vestir alguma coisa decente para receber os convidados. Levantei-me da cama e dirigi-me de imediato à casa de banho para proceder à mijadela matinal. Mas é que não sei o que se passou, senti naquela manhã uma vontade tremenda de urinar, como não é normal.
Saí do quarto aos encontrões com as ombreiras das portas, espetei com o dedo mindinho do pé na mesa redonda que minha excelentíssima avó tem na cozinha (larguei um grosso palavrão, desnecessário para aqui) e, para facilitar ainda mais as coisas, continuei o caminho a coxear.
Ora, besta como sou, cheguei à casa de banho, arriei as calças do pijama às três pancadas, saquei do cogumelo e…felizmente ainda olhei para baixo, porque a tampa da sanita ainda continuava fechada. Tanta coisa, para no fim me saírem três pingas. Enfim, é o que se arranja.
Assim que acabei o serviço, virei-me de costas para a sanita para lavar a cara, (sim, porque embora não pareça eu também me lavo) e quando olhei ao espelho, só não chorei porque tive vergonha. Só lá estava eu, mas tímido como sou (às vezes), até o meu reflexo no espelho e intimida. Tinha o lado esquerdo da cara completamente abrasado. Calma, eu explico.
Cerca de três dias antes do dia do lançamento apareceu-me uma borbulha ordinária no lado esquerdo do nariz e como eu sou um gajo sortudo, a dita cuja não só fez questão de se instalar na minha face, como se deu ao luxo de crescer que nem um javali. Bom, confesso que esperei que passa-se. Durante os três dias seguintes embodeguei a cara com tudo e mais alguma coisa. Acho que até malagueta eu esfreguei ali. Mas a senhora estava decidida em ficar e ficou porque ela quis. No entanto meus amigos, deixem que vos diga uma coisa, há coincidências na vida que nem imaginam. Na noite do dia 22 (anterior à do lançamento), entrei em casa e como habitual numa noite pós-copos, a minha mãe estava estamoirada no sofá da sala. Olhei prà a mesa da cozinha e estava um saco, bem enroladinho ao lado da fruteira. Ora educadinho como eu sou, não toquei sem antes perguntar à minha mãe de que se tratava, não fosse a moça ter um fio dental pr’ali escondido e eu a fuçar:
“Mãe, o que isto?”
Ao que a senhora me responde do sofá, com uma voz que parecia ter engolido uma saca de favas:
“Isto o quê?”
“O saco que está encima da mês da cozinha?”
“Ah…Isso é um frasco de gel que a tua avó te comprou para pôr no cabelo.”
“Olha, ainda bem que eu já não tinha.”
Bem, lá tomei banho, vesti-me e fui ao espelho para me pentear. Embodeguei a mão toda daquela porqueira (achei uma bocadinho estranho aquilo ter bolinhas no meio do conteúdo viscoso, uma vez que já usei todas as marcas de gel e nunca tinha visto tal coisa), fechei o frasco e pousei-o na prateleira por baixo do espelho para poder moldar o cabelo. Assim que acabei o penteado, vá lá, calhou olhar para o frasco que dizia: “Clearasil”- Escusado será dizer que mandei mais dez asneiradas das minhas.
Bem, não estava nada perdido. Uma vez que a borbulha do meu nariz insistia em permanecer, aquilo até vinha a calhar. Antes de me deitar, embodeguei a cara toda com aquilo (lembro que eu nunca sofri de acne juvenil, como tal nunca tinha usado aquele produto), e deitei-me. Escusado será dizer que na manhã seguinte, tinha as fuças com pior aspeto que a lixeira municipal. Só depois é que me dei ao trabalho de verificar o modo de uso do produto, que mandava lavar a cara com água morna 5 minutos depois da aplicação.
Pior que aquilo não poderia ficar e achei melhor não lhe tocar mais. Tomei banho e tratei de vestir o pólo novo de manga curta, totalmente inspirado nos dias de sol radiante que antecederam àquele dia. Olhei-o pela derradeira vez ao espelho…era lindo! Branco, com a gola azul e uma tira à “Miss Portugal” no peito em cor-de-rosa. “Ai tão fófi que ele vai hoje.” – Pensei eu.
Bem, estava eu quase recuperado da baixa psicológica que o abrasão da minha cara me causara, quando abro a porta de casa e me deparo com uma grossa trovoada que até fazia o Homem Aranha esconder-se na toca de uma lebre. Mais uma inquietação.
Lá foi o Miguel trocar de roupa para uma camisa de manga comprida, mais russa que as cuecas de gola alta da minha tia.
Pronto, já repararam que cheguei ao lançamento com uma vontade de mandar tudo à merda que foi uma coisa linda. Para ajudar, tentava eu aceder ao meu blog para apresentar no lançamento e a internet estava com 2 GB. Agora dizem vocês: BOA MIKE! - Exacto.
No entanto, o que parecia ser um inferno propositado para me estragar o dia, transformou-se num paraíso sem limites. Eu disse isto no lançamento para toda a gente ouvir e vou publicar aqui. Só eu e os restantes da mesa de honra, tivemos o privilégio de contemplar aquela plateia. Estava simplesmente magnífica. Pessoas amigas e desconhecidas compunham aquele grupo de sorrisos a olhar para mim. Escusado será dizer que me passou logo a inquietação toda. Até dois ou três cromos que não curto nem à base da cacetada e que fizeram questão de me fazer adeus como quem diz - “Estou aqui para te amolar a paciência” - me pareceram mais bonitos que o habitual.
Rapidamente o meu aborrecimento deu lugar a uma mistura de contentamento e excesso de nervos...essa dos nervos ainda hoje estou p’ra perceber como é que aquilo se processou, se eu já tive frente a frente com o mais variado tipo de público e nunca fiquei nervoso. Até a tão temida Ministra da Educação eu entrevistei como se fosse minha colega de turma. Cheguei ali e parecia um bezerro assustado. Não se admite. Prosseguindo…
A apresentação da obra começou com o discurso da jornalista Madalena Palma. São escusadas apresentações, pois a senhora fez furor entre os presentes (que não eram poucos). Ora a pedido de muitas famílias, aqui está o discurso que tanta gente deixou de lágrima no olho:
(Continua na parte II)